André Mehmari

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Edição e entrevista:

Ivanildo Jesus

Design:

Kas Hoshi e Victor R. Rodrigues


Definir, estabelecer, delimitar, introduzir e apresentar. Um desafio constante. Definir é dar fim, mesmo que momentaneamente. Como dar fim à fenômenos artísticos efêmeros? Como explicar aquilo que se coloca como energia criativa em constante ebulição? Como apresentar e introduzir o gênio no esplendor de seus dias? 

            Vou tentar algumas vezes caro ouvinte, e em todas garanto que você sairá maravilhado. No segundo episódio deste podcast falamos que “Antes de ser o homem é som”; que ainda na barriga da mãe, a batida do nosso coração condensa-se ao ostinato da nossa progenitora. E o nome disso, caros, é música. O nosso convidado veio ao mundo na banqueta do piano. Ainda cedo, tem fotos colocando “banca” no teclado. Sua mãe - uma amante das teclas cuja versatilidade ia de Nazareth a Chopin – foi responsável pelos seus primeiros passos no mundo da música. Antes de ser, o nosso convidado já foi musicalizado. Nesse universo em que a Beleza do Som não tinha começo e nem fim nasce André Mehmari. 

               Nasceu em Niterói no ano de 1977. O nome Mehmari, descende do avô Sírio, que veio para São Paulo no começo do séc. XX trabalhar como alfaiate. Aos 11, o menino se muda para o interior Paulista. Nessa idade já tocava nos bailes acompanhando a mãe. Reza a lenda que mais improvisando do que se atendo ao tema. Descreve-se como: “Um menino solitário, com seu órgão eletrônico, tocando pelos bailes de Ribeirão Preto.”

                        A paixão pelos bailes cede lugar ao Jazz. O jovem passa a nutrir sua insaciável sede sonora por outro estilo. Julgam que ele é um estudante de piano russo, que depois conheceu os ritmos brasileiros. Ledo engano, isso não é nada além de folclore. André conheceu tudo junto e misturado. Tudo ao inverso do reverso, no avesso, do avesso, do avesso. Tudo sem rótulos. Sem saber o que era erudito e o que era popular. Na sua casa só havia dois tipos de música, a música boa e a música ruim.

    Por volta dessa época conheceu Stravinsky. Através da sagração da primavera. Numa era pré-internet, com um xerox com dias contados. Perplexo com a obra do gênio russo se converteu de imediato ao culto “Stravinskyano”. Todavia, isso ainda não o explica. Isso ainda não o define.

    Dos bailes, ao jazz, ao bacharelado em piano na USP. Tudo com imensa naturalidade.  Solista, camerista, e sobretudo compositor. Discografia vasta. Como diz Irineu Franco Perpetuo: “Miraculosamente prolífico, André Mehmari tem praticamente um disco gravado para cada ano de vida. Sobre o grande Ernesto Nazareth, Mehmari diz: “Um homem do seu tempo, como poucos. A fagulha do gênio brasileiro.” Palavras que certamente podem ser usadas para descrever o próprio André.

Ser brasileiro nestes últimos dias é dar prova constante da nossa resiliência. Se há uma arquitetura da destruição em curso, há, por outro lado, agentes responsáveis pela arquitetura da construção. Ainda que eu descrevesse toda a biografia de Mehmari, seria impossível defini-lo. Sua música fala por si melhor do que qualquer texto e além do pretenso esforço das minhas palavras. Sem mais delongas, a Beleza do Som tem o imenso prazer de receber André Mehmari.