A Representação Social dos Sons

  A arte esconde na manifestação a mensagem. Como um iceberg, à primeira vista só a superfície é visível, deixando a parte mais sólida e funda se chocar com o inconsciente da nossa compreensão. Cabe aos sujeitos em cultura, aqueles que dominam o papel da ação, explorar o oceano do subjetivo a fim de transmitir com clareza sua mensagem. Não é simplesmente manipular, é fascinar, seduzir e fazer ecoar a mensagem. No que tange à manipulação dos sons, há armadilhas para os intérpretes e para os apreciadores. Qual a mensagem que transfere um músico na sala de concerto, no palco de um estádio, no baile funk, no forró, na praça, no youtube, no pagode ou no carnaval? Não se trata da simples análise do processo artístico-estético da interpretação, mas sobretudo, qual imagem social que possibilita essa transmissão.  Acostumamos a ver figuras como a Tia Anastácia de Lobato com subserviência, apagada de sua humanidade sempre no papel de servir e entreter, para sobretudo, solidificar uma imagem de controle da branquitude. No livro de Lobato, a personagem responsável por tecer críticas sociais agudas é uma boneca de pano, branca, com as cores da bandeira estadunidense.  As metáforas da imagem são nítidas, estão ao alcance dos olhos, e, portanto, mais perto da reflexão. Já as imagens de controle sonoro, estão mais distantes da reflexão visual. Em música, quando falamos de análise, é comum que o estudante pense na complexidade morfológica e harmônica da peça. Sendo assim, no universo erudito, somos levados a crer que quanto mais a sintaxe sonora for complexa, melhor será a música. Aqui é possível observar a tradução da imagem de controle expressa na meritocracia. Quanto mais o compositor pensou, analisou, arguiu e conseguiu expressar essa complexidade semântica, em complexidade sonora, melhor será a música. Música passa a ser então, o embate da complexidade, e não mais um meio de acesso à emoção, do culto ao sagrado ou da livre expressão.